Diário dos Arruinados- IX






Dizem que sou demasiado.

Não importa o que a seguir vem na frase, pois a sublinhação é sempre essa.

O relevo de ser Demasiado.

Respondo que ainda bem, que gosto imenso de ser assim, mas não posso deixar de notar aqui o quanto me lacera ouvir tais comentários com uma conotação tão negativa, que nunca pensei poder vir sentir.

O Mundo é o meu palco, porque não agraciam tal factor? 

Não é engrandecedor querer viver estes instantes de vida como um verdadeiro filme de cinema e não apenas permanecer sentado numa cadeira a deseja-lo?

O meu brilho devia elevar e não ofuscar, deviam bater em palmas, num aplauso digo, merecedor ao que faço.

Esse sim seria o Óscar de uma vida, emergido dos corações comovidos, admirados ao meu talento.

Será arrogância pensar deste modo ou a dita auto estima?

Mantenho-me magnânimo aos demais comentários, mas por dentro, naquilo que faz de mim o que sou, na verdadeira essência, sinto-me a encolher.

Diminuto nas aspirações de uma corte que preciso ardentemente, que me alimente á continuação da actuação.

Petrifico ao pensar no fechar da cortina, o que será de mim sem espectáculo? 

O aplauso virá de dentro, sim, ao curvar-me no derradeiro espectáculo, perceberei que o que busco há tanto tempo no exterior  está cá dentro, impaciente por rebentar numa ovação, abafada , pelo seu próprio criador.

A dignidade de me afirmar perante um orgulho de palco á única plateia que um anfiteatro poderia conter, nos inúmeros lugares dispostos, O eu.

O ego que me eleva e protege, funcionalmente ao mundo lá fora, passará a sê lo também cá dentro,nesse lugar infindavelmente repleto de surpresas e arte, onde poderemos trabalhar juntos na encenação de uma vida, onde poderemos dialogar como melhores amigos, onde nunca me será dito que sou demasiado, mas que sou tanto!


Sarah Moustafa




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