Diário dos Arruinados- XX
Palavras, já não as tenho.
Palavras, de e na verdade, nunca as tive.
Não sei do que são feitas.
Não sei como se desmancham e constroem, do raciocínio a uma língua selada, entre lábios encarcerados.
Não sei por que viaduto se encontram, que ponte as liga, depura e realiza de emoções a dissertações.
Verbalizar não sei o que é e como se faz.
Enquadro o verbo em poemas na imaginação, em sonhos difusos, alagados de confusão e introspecção, sei-lhes apenas o tom emotivo sem qualquer tipo de lapidação.
Não sei explicar o que penso por palavras.
Palavras não se infiltram na espessura de nevoeiro que me afirma, palavras não se seguram na condensação da clausura que me abre o portal á sua percepção.
Não sei dizer de que cores pinto o mundo, mas sei-lhe os tons de maior especificidade e singularidade, sei os esguichos e a intensidade do seu clamor.
Não sei explicar porque amo as noites em Temporais, a chuva grossa e cantante, cujos ecos sibilam através de mim.
Sei apenas que sinto o trovejo e que no seu lampejo imediato me revejo.
Sinto-me explicado na exacerbação da Natureza, cujas extintas palavras falam mais do a comunicação proclamaria.
A luz explosiva e repentina da intempérie, abre-me, expande-me nos seus bramidos.
Afinal também Falo.
Falo tanto ou mais que os outros, naquilo que calo.
Palavras não as tenho por tê-las demais.
Palavras, de e na verdade, sempre as tive.
Sarah Moustafa
À quem tenha o dom da arte em cultivar, da arte fazer bom vinho, da arte de preparar uma boa refeição, da arte de educar e ensinar, da arte de tocar instrumentos... e tu tens a arte de escrever com o coração.
ResponderEliminar