Dissolvência- Capitulo II (As linhas ténues entre a realidade e a ilusão)
Capitulo II- As linhas ténues entre realidade e a ilusão
Não sabia por onde caminhava , só sabia que tinha de prosseguir na marcha que as pernas cansadas tomavam no trilho desconhecido.
O pesado vestido que envergava, no desconhecimento de como e porquê o vestia, na incógnita desconcertante da certeza que não podia parar.
O corredor extenso e sombrio onde seguia numa arrepiante convicção , de se estar aproximar de algo que fazia todas as partículas da sua constituição tremer, mas não sabia se vibrava por medo ou por êxtase, e como era possível não saber?
A melodia de uma sinfonia clássica ecoava indistintamente num som deliciosamente agradável aos sentidos despertos nos mistérios perseguidos.
Sentiu um leve sopro quente a acariciar-lhe a nuca descoberta e voltou-se rapidamente de coração descompassado e pernas bambas na tentativa ofegante de entender o que se passava consigo e com aquele espaço incompreensivelmente secreto.
Voltou-se na direcção da aragem sentida e o negrume do corredor longínquo continuava igual, sem o acréscimo de absolutamente nada de novo.
Engoliu em seco sentindo um latejar de dor na cabeça até então adormecida.
Respirou fundo com o desespero a despontar enquanto a dor lhe apertava os sentidos numa acutilante propagação, pressentiu um desfalecimento eminente, encostou-se á parede fria e deixou o corpo escorregar massajando as fontes numa tentativa de acalmia da aflição.
A música assemelhava-se agora a uma incontável estridência de notas gritantes nos ouvidos sensibilizados, as entranhas revolviam-se num tumulto profundo.
Julgou que iria verter o suplicio na indisposição máxima do estômago incandescente, num ultimo recurso que o impulso físico lhe permitia, tacteou o chão de madeira talhada com as mãos entorpecidas procurando incessantemente uma escapatória do sufrágio onde se encontrava.
Os olhos turvos estreitavam-se no colapso emergente, sentiu a madeira estalar com os passos pesados de alguém que se aproximava lentamente, os passos eclodiam na proximidade com o seu corpo debilitado.
- Precisas de voltar... Precisas de voltar Jade... - As palavras enigmáticas enroladas na penumbra da silhueta indecifrável ecoaram numa distanciação continua, afastava-se mais e mais da realidade paralela onde se tinha embrenhado.
-Espera... -Balbuciou nos restos de força. - Não espera! - gritou na aflição de sentir que o corpo retomava ao sono denso em que se encontrava na verdade dos factos.
Ergueu-se num ápice da cama, respirando pesadamente, não tinha passado de um pesadelo, não era mais do que um sonho estranho mas então porque tremia?
Porque se sentia assolapada como se tivesse realmente presenciado aquele sonho em carne viva? Porque tinha o rosto molhado das lágrimas vertidas?
Porque se sentia assolapada como se tivesse realmente presenciado aquele sonho em carne viva? Porque tinha o rosto molhado das lágrimas vertidas?
Forçou-se a acalmar o ritmo do coração antes que o ataque fulminante a visitasse, respirou fundo, inspirou e expirou com toda a placidez que ansiedade ainda crepitante lhe permitia. Colocou as pernas para fora da cama tocando com os pés descalços no chão frio de tijoleira, aludindo a conexão do corpo com a terra, com a realidade tangível onde as perturbações ficavam aquém dos véus misteriosos ocultos nos meandros da mente, que preferia não desvendar.
Contudo havia algo no disforme sonho que lhe soava familiar, não sabia definir, não sabia pormenorizar, mas sentia-o, algo de terrivelmente familiar...
Sobressaltou-se com a estridência da campainha cuja sonoridade envolvia todo o pequeno apartamento rápida e irritantemente, Jade olhou de soslaio para o relógio na cabeceira constatando que era ainda madrugada, sentiu um aperto no estômago, um receio indecifrável patente na incomum situação, quem poderia ser aquela hora?
Suspirou cobrindo-se com o robe verde esmeralda, espreitou pelo óculo e o semblante atónito apossou-se do rosto tremendamente incrédulo. Destrancou a porta nervosamente e fitou quem diante de si figurava:
- O que estás aqui a fazer?
Sarah Moustafa
O sonho de Jade foi profundo e deixou vestigios na madrugada. Escrito e revelado de maneira extremamente detalhada e perfeita! Gostei imenso.
ResponderEliminarQuem virá tocar a essa hora? Vou já correr para a continuação.
ResponderEliminarObrigado Dulce pelo entusiasmo!