Uma semana.
Uma semana tem o poder de te mudar a vida inteira.
Três semanas atrás embati no fundo de mim mesma.
Aterrei a proximidade perigosa do meu limbo melancólico e recluso.
Existem horas que o compasso da vida deixa de funcionar, para passar a funcionar melhor do que nunca.
A minha alma deitou se no chão por dias interrogando a existência de um propósito em tanta dor oferecida numa rajada desmedida, onde se sente, toca e vê nada mais que um rasto de destruição por contemplar.
Chorei por horas a olhar para o resultado do que me estava acontecer entre um piscar de olho e um batimento de coração.
Chorei para o cansaço de um conforto breve me amparar, num sonho onde dormisse sobre plumas desafiantes a minha condição intratável.
Eu amo por cada gota de sangue que se multiplica diariamente no meu organismo, e por amar desta forma devotada , apanho as anemias mortíferas quando não posso dar aquilo que quero receber.
Um amiga. Grande.
Um amor. Grande
Um objectivo. Por encontrar.
A minha consciência cada vez mais pequena, encolhida num canto de desvalorização repetitiva e culpabilização alheia.
Sim, as pessoas abandonam-nos apenas porque a trajectória de vida, roda para direcções diferentes, longínquas das nossas aspirações.
E dói porque trespassa-nos para lá do físico.
Amizade esfria, o amor troca-te.
E o que te sobra no final se não sempre o mesmo, tu deitada num qualquer espaço, imóvel, petrificada com cada imagem de um presente que jamais voltará acontecer.
O desapego e a luta interna que te incinera a tu própria essência e a modifica para sempre.
Uma das melhores coisas que me disseram até hoje :
" Já não conhecia alguém tão frontal nos sentimentos há muito tempo
Quero dizer-te que és inpoluta no sentido em que, ao contrário das pessoas que conheço em Lisboa, todas cheias de mundo e certezas, colocas-te em causa permanentemente..."
Portanto ali, prostrada na escuridão eclipsada dos dias que subitamente fugiram, porque não conseguia ver a minha própria luz, aquela que sinto reluzir em reflexo no rosto dos outros quando olham para mim? E finjo não a perceber.
Porque é que preciso de uma constante validação de quem não se reconhece a si mesmo?
Porque é que me importam as pegadas na areia constantemente dissolvidas pela chegada do mar?
Que relação de amor-ódio devem ter entre si, para chegar a um entendimento de partes que desintegradas se vão juntando todos os dias.
Uma semana , sete dias paralisada, não sei quantas horas a ser constantemente reanimada.
Abri os olhos quase sem os mover, ainda entorpecida pelo tempo de silêncio e choque, quando aquela voz que só nós sabemos o timbre, me disse simplesmente para entregar as mãos, as minhas que não se distinguem do próprio coração.
Ainda antes de o conseguir fazer lá estava o sinal luminoso a reluzir me pela penumbra e a silhueta que se aproximava.
Não fazia ideia de quem era, só sei que corri na sua direcção como nunca corri na minha vida e do embate de dois corpos, da mesma carne, do mesmo osso, do mesmo sangue...ah.. da mesma fractura, cheguei a casa.
Cheguei a casa e ela esteve sempre em mim.
Sarah Moustafa
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