O Homem mais (Im) Perfeito #2


Magneticamente atraída.
Completamente perdida, entrei no submundo que as noites me imaginavam.
As vezes, acho mesmo, que não passou tudo de um momento cristalizado na imaginação e que o tamanho da força do meu desejo exacerbado, conseguiu trazê-lo para a dimensão da existência.
Ainda na duvida se foi verdade ou mentira, existiram indubitavelmente a violência das emoções arrasadoras, e essas não há como não saber que estão ali, que estão ali concretamente a invadir-te cada centímetro de espaço que te pertence.
Cada batida do meu coração ingénuo professava o resultado.
O problema é que eu sempre gostei muito de profecias, de inspirações profundas e mágicas nos meus dias, portanto não era agora pela agravante de ser fatídico que iria recuar.
Não depois de toda uma longa, jovem vida a ansiar por sentir contacto com o transcendente, com os desvios imperceptíveis no meu ritmo cardíaco.
  
Disparava - A cada palavra.
Disparava- A cada Silêncio.  
Dispara- A cada Oportunidade.
Disparava- A cada Dificuldade.

Se me retirava completamente do meu eixo, por bem e por mal em igual medida e intensidade, firmava-se a certeza da importância que eu sabia isso mesmo ter.
Nós sabemos sempre quando alguém se enterra nas nossas entranhas mas só o reconhecemos muito depois.
Numa tarde de solidão insatisfeita qualquer em que todo o teu corpo se revolve em volta da compensação de um nome.
Nós sabemos sempre, e sobretudo, pela marcada diferença que assinala em nós, pela roupa do avesso que começa a ser usada como se sempre a tivesses usado assim.
Pelo nascimento de uma nova injecção de vida antes de sequer engravidares.
Um peso suave.
Um tudo ou nada que não o leve.
Eu soube quando se arregalaram com um sorriso tão largo que lhes era desconhecido.
Quando me notaram brilho, rubor e vontade a cada gesto inato para quem estava ao meu lado.
Quando a minha habitual brandura nos assuntos do coração se tornaram tortura.
Tudo o que não fosse o caminho de encontro, de uma acréscimo, de um novo ponto na história, torturava-me. 
Imensamente.
Depois encontrei a obsessão, que sempre soube ter diante do que me despoletasse paixão, mas nunca pela indefinição.
Toda a extrema indefinição daquele homem, só me fazia querer perseguir mais respostas á exaustão.
Quis testá-lo, cansá-lo até que lhe provocasse a reacção esperada.
Até que sucumbisse ao ponto da desistência.
Fiz tudo, conscientemente, o que uma mulher deve fazer para um homem interessado desistir.
Tudo mesmo.
E o filho da mãe desviou-se da probabilidade.
O filho da mãe tinha que para além de tudo, desarmar-me as regras do jogo.
Não deixava de nutrir interesse por cada veia figurada da sua consciência.
Queria mais do que nunca penetrar nela, nele, por todos os lados.
Queria vê-lo, desmancha-lo por todos os ângulos, sobretudo pelos que não se medem.
Apercebi-me em pouco tempo que ele era um oceano profundo, habituado á superfície.
Caminhava sobre ela, mostrava-se como ela e como bom dissimulador conseguia mesmo tornar-se nela, mas a essência da sua verdadeira fundura estava lá, conseguia senti-la, cheira-la, chama-la...aguardando que se revelasse num desaguar súbito da sua desatenção.
Capturei esses momentos em  fotografias instantâneas na minha mente pictórica. 
Foram sempre instantes, tão rápidos que me cegavam na sua luz, mas prevaleceram em grande escala pela veracidade, pela genuinidade da sua consistência.
Um primeiro flash na visita a sua casa, onde me explicava com refreada, óbvia, excitação o porquê de ter uma cama na sala, o porquê de dormir ali com um quarto vazio no primeiro andar, o porquê que só uns olhos solitários reconhecem noutros.
Apreendi o vislumbre, ao que solidão dos dias a verdadeiramente lhe sabiam, e guardei a imagem e o gosto terno dela, tão passageira como forte no que representava.
Sempre fui muito de depositar, guardo tudo.
 Tudo até o que não devia, mas não me desfaço, sou tenaz agarro-me ás memorias, elas embalam-me.
Intrigava-me toda aquela recolha, toda a relutância em mostrar emoções abertas, em insistir em frases incompletas e mensagens secretas e ao mesmo tempo ser capaz de vê-las na aura de cada disfarce que ele me apresentava.
Vi várias vezes  as máscaras, uma a uma, descortinei-as, não são segredo para mim, mas mais ainda e inesperadamente vi-lhe também o rosto.
Vi e era uma feição inacabada.
Uma obra prima incompleta.
Era bela e com contornos certos por preencher, e uma vez mais, a obsessão intensificou-se.
Filho da mãe, vi-lhe o rosto e ainda não o sei, vi-lhe o rosto e ainda existe espaço para esculpi-lo de sonhos, fantasia, cor e emoção.
Filho da mãe, que para além de tudo, era por tudo especial.
Pensei apavorada, por favor, diminui o nível de (im)perfeição.



Disparo- Estou mais do que lixada.

Disparo- Estou apaixonada.



To be continued....




Sarah Moustafa 

Comentários

  1. já chorei com um post q escreves te e revi me no sofrimento que descreves. esse homem vale tanto sofrimento e tanta lágrima? eu tenho a certeza absoluta que n.

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