Quero
Quero desesperadamente deitar-me.
Deitar-me num canto qualquer, plano, disposto a receber-me.
A mim e ao meu corpo atribulado.
Quero reclinar-me na fraqueza do ser, na fragilidade permitida , fugindo de um compromisso que não consigo conceber.
Quero entregar me a qualquer coisa que me aceite, á menor compaixão e misericórdia de uma alma incapaz de se ter.
Quero apenas deitar-me neste desespero de ferida que sangra sem doer, numa mágoa fechada que a a todos faz sofrer.
Quero um leito que me acolha ao derradeiro segundo querendo apenas padecer.
Quero tanto a única coisa que a vida me recusa oferecer.
Quero esquece-la, crucifica-la na cruz onde apenas a mim me posso ver.
A luz queimava-me a sensibilidade de uns olhos cegos a luz que jaz pálida aos uivos do anoitecer.
A estrondo de um carro no acidente que me fez acontecer, o eco imperceptível de vozes enfim a suspender...
Talvez tivesse acontecido, talvez o descanso se realizasse no final da corrida que nunca tinha conseguido vencer.
Mas os olhos cerrados voltaram a tremer e abrir-se na lição de um novo amanhecer, que lecciona mesmo sem o aprender.
Sarah Moustafa
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