O Dia de Menos Um Dia




Os músculos retesam, o coração descompassa, sustem-se o oxigénio que resta e ergue-se!
 Puxa-se os lençóis para trás e orquestramos uma falhada tentativa de acreditar num positivismo de dia, num código de linguagem que não utilizamos.
Forjamos a realidade, a vida patente das nossas emoções e...Bora lá.
Bora lá a mais um dia pleno de insatisfações acumuladas, num deposito sem fim, num acréscimo de só mais um dia sem o ser!
Bora lá entupir o corpo com mais nefastas composições de raiva dissimulada, de gritos em freios, da comunhão de bem ser e bem parecer aos restantes que não assistem mas subsistem!
Não podemos sair de um emprego estéril porque ele nos alimenta!
Não podemos pensar em divorcio afinal o que seria de mim agora sozinha, e os miúdos?
Não podemos dizer não ao sim, porque este mecanicamente programado, dispara, ejecta-se com uma facilidade que só custa sentir...a noite.
No quotidiano passado de volta á mentira, as lágrimas caem, as vezes sem se verter. 
O estômago incendeia-se, temos azia de nós mesmos.
O coração tem arritmia, tem vergonha de nos pulsar.
Porque vivemos esperando morrer, se nessa mesma vida a morte já está assegurada e não a sua antítese?
Que imagens passarão na tela de um olhos gastos do que nao fez, no derradeiro segundo?
Se partirmos embaraçados na teia que não desenvolvemos como pensamos que o regresso a uma nova vida sucederá?
Melhor?
Ou ainda com mais cicatrizes por emendar?
Os músculos repuxam a carne, o coração descompassa...a gritar nas linhas das suas emendas a mudança, a mudança de atitude muito mais feroz do que apenas aquela que ousamos pensar.
O estômago arde em sinal do lixo que se engole todos os dias e porquê engolir o que se pode deitar fora?
E porquê deitar fora o que se pode degustar com todo o dever?

Sarah Moustafa

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