O Mar Leva o Mar Traz




Inevitavelmente o passado retorna nas sombras do coração pesado, pesado na ausência das palavras que não foram ditas, dos gestos inexplicados , das partidas incompreendidas...
Contudo, a nostalgia ajuda na depuração da relevância das questões pendentes, ajuda alumiando as sombras que imploram por libertação.
A libertação do perdão, da abnegação da culpa alheia, da culpabilização pessoal, do orgulho desmesurado e sobretudo da tentação gigante de trancar os vestígios de uma solução para sempre.
Se permanecemos de espadas em punho num duelo infrutífero e doloroso ou se as lançamos ao mar, juntas na unidade separada, que se reencontra na pacificação do propósito que enlaça duas almas, naufragadas no mar zangado que as separou no curso das marés distintas.
Mas tudo aquilo que importa, nas delongas horas da ausência, encontra sempre uma forma de retornar ao ponto de onde partiu, dando a benesse da oportunidade de curar a ferida mutua com o sal bendito das águas profundas da nossa fortuna .
A cura na conversa isenta de responsabilidade, no abraço afectuoso da compaixão da saudade, daquilo que sabemos , contra todos os indícios, ser verdadeiro na intemporalidade dos ponteiros assinalados no tempo que passou, que permanece e que virá.
O cântico do mar trouxe-te de volta á costa, trouxe-me de volta a ilha perdida.
Iremos perder a oportunidade de a desbravar e explorar na centelha quente que nos une ?
Poderemos voltar sem medo ao oceano que nos separou?
Poderemos realmente perder a oportunidade de ficarmos mais leves?

Sarah Moustafa

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