Colapso


Tentei na magnitude da expectativa do esperado, debruçar me nas exigências requeridas.
Tentei mas falhei. Falhei na redundância da negação, na aceitação do indevido, no silencio da voz que se calou.
E agora entre o colapso, na emergência da queda, os pés caminham, na rendição do trilho, onde o sossego me aguarda.
A mágoa que não sara, dilacera. A luz da manhã fere os olhos na nebulosidade que os circunda durante a noite.
Despida caminharei na direcção do precipício,  pois na nudez intrínseca retomarei na Ascenção seguinte, ou talvez não, talvez o sacrilégio seja tão imenso que nada serei do que cinzas perdidas no oceano acolhedor.
O oceano profundo que me abrigará nas suas águas purificadoras, redentoras da perversão humana, que em mim levo.
Colapso por assim cessar. Colapso que me canta as direcções a tomar. Colapso que me quer em si, como nenhum outro.
Tentei mas a cabeça mergulha fundo na miragem do sonho da paz.
Acreditei que poderia mudar, o passado ser esquecido, a ferida curada, os amores retomados, os sorrisos deslumbrados...
O paraíso quer-me dar a mão, a mão com a luz acolhedora.
Todos começamos com boas intenções,  com o amor puro e selvagem, acreditamos na impossibilidade do ser impossível.
Mas na verdade carregamos nas costas, o fardo que com o tempo se revela, o sabor amargo de perder tudo  que sempre amamos.
Caio...afundo-me na profundidade inerente... Colapso.
De mim o caos se apossa, de mim exclusivamente, me toma nos seus braços. Me conforta no infortúnio.
  As vozes silenciam-se, as vozes que tanto alertaram á iminência da catástrofe.
O paraíso dá-me a mão, sem outro sitio para ir, perdi todos que pensava serem amigos, todos que conhecia.
Viram os rostos embaraçados, pretendem que não vêm, pretendem que não sabem que basta um pequeno passo no piso escorregadio para tudo mudar. Para tudo acontecer.
Tentei mas afundo-me. Tentei mas colapso, caio e lavo-me no mar imenso.
Colapso no retiro da eternidade. Colapso, por fim, enfim.


Sarah Moustafa



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