Declaração - VIII






Sim sou uma criança. Sou pequena.
Sim sou irresponsável e faço muito pouco valer a pena.
Não, não sei ter a calma e uma certa madura paciência
Não ajo conforme a norma, não tenho ainda essa sapiência
Sim sou impetuosa nada pondero, muito menos sei se existem espinhos na rosa
Eu agarro-a como quem agarra a vida, não a cuido e ela seca-me desgostosa
Não não sou infantil, a infância escapou-me no destino e eu projecto-a de uma forma vil
Não, não sei o que quero mas sei que sim, e mesmo não tendo a certeza do quê, se não tenho essa lacuna, eu desespero
Sim tu és adulto. És grande.
És cauteloso e o passo vagaroso, é como se quer que se ande.
Não a emoção não te exalta o coração, está escondida algures
No sonho que te quebraram do fundo da imaginação
Sim és constante e a instabilidade e insegurança é escondida nessa estante
Onde os livros e o pó guardam a verdade de quem um dia embruteceu
A essência num diamante
Não, não consegues dizer as palavras de candura
São feias e corrompidas, são sujas e iludidas
São cansadas e desmedidas
Mas são sempre a desenvoltura
De um espírito por mais que se domine é sempre
Vestido de Ternura
Sim és grande e eu sou pequena
É toda errada esta cantilena
Não não somos diferentes
Somos iguais no desvio e reparo
Que este Universo nos pôs em cena

Não, não nego
Esta miríade espelhada suprema
A resistência é o que nos envenena.


Sarah Moustafa


Comentários

  1. olá,
    gostaria de deixar aqui meus sinceros parabéns por tamanha criatividade e sensibilidade que encontramos em seus textos tanto neste blog como em sua participação em penseforadacaixa!
    grande artista!

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