Diários dos Arruinados- XIII




Ás vezes choro. Choro muito.
Choro lágrimas do que não sei, do que não vivi e que ainda assim, não sabendo porquê, detestando o vazão sem motivo coerente de explicação, choro. 
Choro muito.
O pranto verte-se num envolvimento emocional inexplicável com o tudo e com todos, com o que me identifico, com o que me é totalmente avesso, com os amores e ódios, com as adorações e raivas pulsantes, choro, choro por todas e a todas as situações.
Lágrimas de Sal malditas na bendição, excomungação dos anseios que carrego, sem serem de factos os meus.
Mas se aqui cravejados se encontram, como podem não o ser? 
Só porque não os palpo tangivelmente, só porque não os conheço alem de reminiscências de memorias turvas?
Como podem não ser meus se no meu peito se afloram? 
Se no meu regaço murcham?
Sinto-lhes a vida e a morte, carrego essa missão.
São meus sim, choro-os, molho-os, trovejo em gritos de noite perpetua acometida no elo inquebrável, no mergulho ao aquário de corpo onde residem.
São minhas partes negadas, injuriadas, quebradas.
São a minha pauta, a minha orquestra a minha ópera.
A minha Obra, O Graal que dá vida á secura de deserto em Oásis, a árvore de frutos maduros de alimento á mãe terra, á vida!
 Minha vida.
Choro muito, sem saber porquê, sem saber como parar, como travar o curso de um tsunami avassalador, chorando incompreendida ás demais incompreensões.
Choro muito não o lamento, é meu... meu sustento!
Alento de noites sem estrelas, do sonho sem possibilidade, da morte fechada á infelicidade.
Alento da dor em saudade, do brilho sem magia e divindade, da glória possível na surreal realidade.
Ás vezes Choro. Choro Muito.

Sarah Moustafa 

Comentários

  1. Poesia de uma beleza transcendental. Gostei muito
    Um dia a plena alegria será a luz do seu viver.
    Beijos

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