Diário dos Arruinados- XI




O romance não devia ser assim, não devia incinerar em fagulhas explosivas de chuvas brilhantes, cadentes sem mastro de solidez a que me agarrar.
O romance não devia ser assim, não devia queimar desta forma, em ferida de incêndio que cativou, não sabendo como, a totalidade de uma alma inconscientemente apelativa por perigo, esse que do fundo que nos leva nos mata.
Não deviam comportar estas consequências dolorosas, esta negatividade em ácido, antítese da doçura suposta, ao que se emprega ao dito amor.
Mas se não fosse assim, se não descêssemos ao recôndito  flamante inferno, se seguíssemos a receita ordeira e estável , como dentro dela mesma, poderíamos comportar em placidez o tempero em escaldo das mais enigmáticas movedoras emoções, sendo essas das mais insubstituíveis sensações?
Se não vaporizarmos o confronto amargo das sombras mais escuras, como conheceríamos a autenticidade da luz em verdade de um e de outro naquilo a que facilmente  denominamos de entrega e intimidade sem verdadeiramente a processarmos, na dificuldade tenebrosa que se apresenta?
Se quero o verdadeiro romance, paixão ao mais alto grau, terei de amar estas queimaduras, como parte, órgão vital de sobrevivência e pertença, a uma evolução real de um coração liberto a uma plena realização.
Aprenderei amar esse sentir explosivo, como um fogo de artificio que rebenta em cores majestosas num esplendor de medo e fascínio  para pacificamente, tal como o fenómeno, me deixar cair no contemplo dos nocturnos céus.
Deixarei que me mate, que nos mate, que assinale a devida revolução do sentir escabroso, do profano ao esplendoroso, deixarei que me salve, que nos salve, em pio de fénix, de cinzas renascida. 
Aquela que ensina, que se destrói e regenera, que mostra que o caminho de Éden é também o caminho Hades.

Sarah Moustafa

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