A Lua e o Egipto
No Egipto o amor está nos olhos , a devoção nas mãos e tudo pertence aos céus.
O ar que se respira é tão sufocante como libertador , o Sol desde que nasce até que se põe , queima e deixa as marcas da sua alma na pele.
O Sol é uma bola de fogo como nunca antes vi e catapulta-me para outro mundo , onde a luz é tão colossal , que te fere tanto como te acolhe.
Voltarei sempre lá por ele , pelo Sol.
O deserto infindo amplia-se entre tempestades de areia e a voz alada do tempo , é a mesma voz que te impele a prosseguir na jornada das adversidades .
Ela entoa que o moroso caminho que te abstém da água que buscas ... é agua sagrada que corre em ti , que se continuares a caminhar com o Oásis no coração , ainda que quase sem forças e no limiar do suportável, o Oásis encontrarás.
O vento é um eco de memórias passadas cuja brisa ergue os cabelos desgrenhados ao topo da montanha mais alta e te torna um todo com ela.
As areias por vezes movediças puxam-te com braços de serpentes hediondas que tentam envenenar-te o espirito com a mais dolorosa doença que me aflige , a dúvida .
A dúvida da existência , da continuidade e da criação .
A fé é a força que conduz qualquer (in)fiel a descobrir-se nas margens das estradas caóticas e na confrontação com as mais terríveis desigualdades , á beira do deslumbrante mar Mediterrâneo ou mergulhando o mais fundo possível no Mar vermelho , na afinidade inexplicável quando o Azan ressoa e desperta a cidade inteira para o chamamento á oração .
No Egito a família é um pilar inquebrável com raízes profundamente firmadas num crescendo de árvore milenar, feita para te perpetuar em vida mesmo depois da morte.
Existe uma casa em cada canto , uma celebração e uma despedida a cada momento , uma dançarina que se exibe na sua sensualidade exaltada pelas cores vivas que veste e os ornamentos que a decoram , para te mostrar na sua dança uma beleza nos seus movimentos que transcende o corpo.
Existem risos de hospitalidade e sussurros de perigo nas ruas atoladas de excessos .
Na Alexandria não se dorme, a noite é activa como uma Nova Iorque de terceiro mundo, e saltando entre cafés luxuosos e outros mais despojados, onde o fumo de diversos aromas misturados de shisha se confundem, lacrimejam-se os olhos, abrem -se sorrisos e tu não queres que amanheça e seja tempo de descansar.
No Cairo és refletida no Nilo como a jóia predileta que ele sempre guardou , passeias nas ruas esfomeadas onde suares é uma bênção e todos te olham com misto de curiosidade e depreciação.
Bebes o café mais negro e denso que degustaste na vida , leem-te as borras , contam-te a tua sina , enquanto te tatuam henna nas mãos e murmuram uma reza que abençoa a sua arte.
Dizem que te fascinam porque também és deles e estás prometida ao mesmo dia do Juízo Final.
Um olho chora triste... outro emociona-se de glória .
Existe um resgate a ser feito por mim aqui.
Porque no Egito nunca estou só ainda que caminhe com a solidão .
Sarah Moustafa
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