Carta - II
Quando todas as luzes se apagam e paro para pensar na injustiça do breve momento que fomos, as horas estagnam e abrem todas as feridas , como se o golpe fosse sempre o primeiro.
Foi assim tudo tão fugaz? Ou sou apenas eu que não entendo o tempo ?
Será que isto é apenas devaneio que me persegue diariamente ,em jeito de assombração , e de verdade nunca te conheci?
Será que o toque da tua mão na minha pele, a tua boca agressiva roubando o espaço da minha, todos os sítios onde nos encontramos , todos as passos dados, todas as conversas cheias de palavras encantadas , foram arrepios na espinha, uma fantasia?
As memórias vão se desfragmentado e com elas a certeza de um acontecimento tão longínquo.
Quando te conheci era menina tão ingênua e inexperiente mas sentia uma força que esta mulher tão grande não tem.
A tua ausência deixou um buraco tremendo mas a dúvida de se sequer exististe , mata-me.
E talvez seja isso que queres. Magoar -me mais e mais até não haver sobrevivência que se erga e eu caia aos teus pés completamente inanimada.
Ou talvez só eu me condene por deixar que o coração me guie.
Não lhe devia dar importância nenhuma, devia ser muralha, máquina, escudo , não sentir nem dar amor a ninguém, queria ser imponente, orgulhosa , cheia de ambição pelo mundo estéril e vazio
Ser tão emotiva só me dá palavras, sangue e tormentas.
Gostava de não perder tempo com merdas , como imagino que me dirias.
Sempre desvalorizaste os meus anseios , as minhas angustias , todo o meu universo interior apesar de te fascinar , aterrorizou-te.
Deixei-te numa posição complicada .
Não querias uma mulher tão perceptível daquilo que esconderias, nem uma que te despisse fora da cama.
Então porque me fizeste acreditar de contrário ?
Porque carregaste nos de tanto desejo e vontade se sabias não me suportar ?
Se te cansei, porque continuaste? E se continuaste ...porque não fui merecedora de um ponto final, de 1 desfecho, um aceno de despedida?
Poderias odiar-me assim tanto ou assim tanto desprezar alguém que quiseste tanto ?
Jurei ao fim de todos os dias, que me adoravas.
Poderia ser tão cega e não ter olhos senão postos em ti?
O que é que eu fui?
Um caso de verão? Uma aventura?Um passatempo ? um chão? um troféu? uma moeda? uma boneca de trapos?
Porque me mentiste quando eu poderia ter perdoado tudo?
A vidente que me disse seres o Homem da minha vida , antes de cruzares caminho no meu destino, esqueceu-se de acrescentar que serias apenas um instante efêmero e que cruel nunca mais desaparecias de dentro de mim .
Não sei onde te guardo, onde te deixo, onde me acalmo e liberto.
Dói demais não estares e nunca mais voltares a estar.
Dói demais apenas eu sentir esta enchente quando já te esvaziaste e tenhas seguido em frente.
Dói demais ser trocada por um plano traçado tão rápido e num estalar de dedos já não estar lá.
Dói seres mentira e ainda te sentir verdade.
Dói.
Muito .
E talvez escreva esta cartas na esperança que elas nos venham a sepultar.
Sarah Moustafa
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