Conta-me a tua história






Não há nada de diferente na minha história senão pelo facto de ser a minha .

Com todas as semelhanças possíveis com as vossas e as diferenças incontestáveis por igual.
Porque todas as histórias têm um guião, um inicio e um fim que nunca verdadeiramente acaba.
E todo um enredo previsível na sua imprevisibilidade.
Gosto de acreditar que estas longas metragens são compostas por duas coisas.
50 por cento extraídas da essência única, inigualável, que torna cada personagem indispensável no desempenho do seu papel, seja este qual for, neste mundo onde se projecta.
Outra percentagem feita de todos os pequenos momentos que irreversivelmente as afectam, moldam e transformam desde o segundo em que nascem das mãos do seu criador.
Sendo aqui que se começam afastar do mesmo.
É assim que se forma a identidade.
Acredito que o grande desafio está em querermos dissociar ambos os processos em vez de procurar fundi los no que são.
O caminho de uma metade faz se pela outra.
Desenterrando o que as circunstâncias reprimiram do que eram para conseguirem sobreviver.
E perceber que não temos que sobreviver .
Temos que abrir a porta da morte declarada para que a vida se possa assumir.
Atenção que esta não é uma verdade geral ou nunca seria a minha.
Esta é apenas aquela que ao fim de muito tempo à procura na cabeça dos outros, nas filosofias dos mestres e nas bíblias dos deuses, encontrei dentro de mim.
E quando reconheci toda a paródia que a tragédia pode encenar.
Se deixei de duvidar ?
Claro que não.
Deixei apenas de querer reeditar cada acto em cena e de recusar o rascunho que todos os dias me vai sendo entregue por não ser limpo e bonito.
Apaixonei me pelo deslumbre da perspectiva do protagonismo.
Pelo lugar onde sou mais que corpo e onde a morte não nos trespassa.
Pelo foco de luz na diferença.
Pela forma como a cortina cai e nos segura.
Seja o que for tem que me fazer vibrar.
E faz.
Tem que me fazer sonhar.
E faz.
Tem que doer.
E dói.
Tem que ter medo.
E tem.
Tem que me fazer querer Ser maior sobre o tenho.
E temos tanto e somos tão pouco...
Queremos ser sociedade sem identidade e queremos ir a nossa vida sem assumir a responsabilidade que nos cabe, no papel social.
É interessante como conseguimos ser abominavelmente egoístas ou estupidamente ausentes de voz e vontade.
De fogo e capacidade de acender a nossa luz.
E o mundo nunca fará sentido sem ela, mesmo que sejas a única pessoa que permaneça às escuras.
Faltaria sempre alguma coisa.
Faltarias sempre TU.
Esquece o cenário.
Esquece as câmaras e quem está por trás delas.
Deixa de ter ouvidos para aplausos e boca para críticas.
Fecha o livro que alguém te deu e abre por fim, o teu.
Não o leias, encarna-o.
Vive o espectáculo.
Há tudo de diferente na minha e na tua história.
Conta-a.
Eu conto te a minha.
É assim que sabemos que fazemos parte do todo.


Ocupa o teu lugar.









                            





                                                             Sarah Moustafa

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