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Ela tinha uma caixa em que cabiam todos os segredos do coração .
Ela fechou-a, a caixa .
Com todo o seu patrimônio dentro e atirou-a para o fundo do mar.
A vida seguiu passando como ondulações fugazes de um amor que deixou de transbordar .
Um dos seus amantes havia lhe dito , daqui a uns anos vais perceber , acabamos todos por endurecer , serás mais cacto que açucena ... e ela na altura revoltou-se .
Nunca ! refutou alarmada com a possibilidade de perder a joia que carregava com orgulho dentro do seu peito.
Hoje , anestesiada com a orquestração de eventos que não entende  , pinga uma lágrima de sangue como que envergonhada consigo mesma por não ter conseguido manter -se delicada como as pétalas que desabrochavam do âmago e revestiam o seu físico.
Agora já não é b*ela e só tem espinhos.
Caminha entre mundos sem saber  de si , tudo é barulho , desinteressante e razão para guerrear contra quem se aproxima e procura por aquilo que ela não tem em seu poder .
A desidratação da alma , a frigidez do corpo , o alienado olhar.
Ser feliz quem sabe o que é sem ter -se a si .
Ela teve-se , um dia e noutro perdeu-se .
Segue-se assim no tempo escondida na multidão , sem caixa , sem segredos de afetos , sem flor , sem paixão.

ela tinha um coração... onde cabia o mundo inteiro .


























Sarah Moustafa

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