Repertório da Lua #26





Talvez procure segurar nas mãos o que pertence ao éter , o que não tem espaço competente na realidade física , tangível do peso do corpo no chão ... que é afinal o concreto.
porque nao pode o amor também ser ?
será que ele alguma vez se torna real ou vive sempre em jeito de anseio na pele , a espera de um sonho que a vida adia , ou de um ideal que não se pode realizar... ?
o tempo passa e os bocejos tornam se maiores e consecutivos.
as pessoas surpreendem pouco , o tempo que pertence ao momento presente está incompleto sem conseguir juntar os  olhos á colada figura de um rosto e tocar nas suas formas.
sonhar é bom mas deforma as horas contadas de segundos que não regressam.
amar é bom mas fica sempre aquém do que é vivido no interior mundo selvagem do sentir.
escrever é bom , dá jeito quando se precisa despejar angustias , felicidades e outros feitos , façanhas , fedores , furores desse tornado que devasta o ilhéu do pensamento.
Mas não cabe nas letras tremidas metade do que se vê , metade do que se imagina.
Sou uma insatisfeita crente no amanhã mas ciente do passado e que entre uma coisa e outra , o agora já nao existe .
num estado puro, possibilitado .
estas tu ai , eu aqui e todos os restantes a nossa volta.
e de repente já não estamos , já também os outros se foram.
mas ...
a recordação do que outrora foi e já nao é , mas foi,  é o que te torna o mais perto do credível, quando apareces sorridente nos espelhos de agua que regam os jardins secos do meu palácio decadente .

nada é tão cruel como precioso,
como essa pérola... a  memÓria

nada.





The Cure - Pictures Of You


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