A brisa que passa no pensamento



Agarro um punhado de areia como que segurando a forma desintegrada de um espírito que abandonou o corpo.
Não sei de que me faço , se de carne , se de milagre , se de maldição , se de ti...
Sinto - me como a Eva nascida da costela de Adão , que deu ouvidos ao que não devia , que convidou a serpente para nos destronar do reino paradísico, onde repousávamos nas plumagens das horas fáceis e dos dias dóceis com cheiro a mar.
Os enganos repudiam-se espremidos pelas frestas dos dedos apertados de raiva.
Como será que teria sido a vida nesse lugar certo ?
Como será que caminharias na estrada de textura lisa sem os sulcos dos nossos erros?
Hirto , com o peito tatuado de orgulho e os olhos comovidos de uma dose saudável de loucura?
De passo apressado , dançando de sol a sol com a mulher que os sonhos não te roubaram ?
Será que te teria dado tudo ?
Plantado a árvore, escrito o livro , nascido um filho ...
Será que estaria curada nos braços de um poema que se faria casa indestrutível de papel  ?
Será que os olhos achocolatados ficariam enxutos capazes de ver enfim a verdade ?
Será , será , será....
Deixo a areia soltar-se na espiral de pensamentos enevoados levando-os para longe , esperando sempre que não regressem, que se percam como miragem no deserto do tempo.
Passado é passado.
Passado é passado,
Passado é passado .

Mas por vezes ... parece que chega tão perto do presente que o encontra .

Tão perto.




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