Paper Cut




Existia algo de indefinível nos papeis que se escreviam , de grossas letras e sobressaída pontuação.
As mãos estendiam-se no papel como que se curando com o tacto,   não com palavras.
Estas atropelavam-se e agarravam-se em pânico aos cantos da boca que fingia a seriedade, de quem só queria partilhar a linguagem do amor.
Mas falar de fundo e em verdade assusta os Homens ! Feitos para temer a translucida luz dos olhos que se despem em simultâneo com o corpo.
Amar evoca a transformação absoluta dos estados obsoletos , que embora cansativos arrastamos por gosto , pois mais vale um elemento familiar que a estranheza desse Ser que só de existir provoca um sismo de vontade.
Então tiravam-se das vísceras pedaços de fome , de guerra e necessidade... e de sangue se tingiam os dedos ,que sem saber, tatuavam a pedra que amolecia no coração ...
Infligia a revolta , o desassossego , a morte de um tempo que rodopia sem parar e escreve o que pode , diz o que sabe e confessa para a cruz que carrega no peito a mensagem do silêncio.
E eram grossas as letras , sobressaída a pontuação .... e julgavam que liam bem.
Mas os olhos não estavam abertos .

E o amor que se faz em papel
É o amor que se fez tarde,
Tarde demais.





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