A Lua Eclipsada

Acende-se o isqueiro.
A chama aquece-me a alma das mãos.
Sim!
As mãos tem um subterfúgio lunar , algo muito próprio e escondido nos cantos que se mascaram.
De facto ter algo á frente do nosso nariz é o melhor disfarce.
É tão óbvio que se torna ilegível.
Gosto.
Fuma - se o cigarro , o céu está diferente mas não me lembro do que lhe aconteceu.
Talvez o problema sejam os pássaros que demoram ou os aviões que ainda não descolaram .
Está tudo atrasado.
Um espaço como estes , abobada celeste , entrada para o terreno dos deuses, merece ser explorado.
Porque não estão criaturas da natureza e outras invenções humanas a rasgar atmosfera e trazer-nos mensagens do Olimpo?
A temperatura desce, O Inverno nesta cidade é estranho , não se esclarece do que quer.
Dúvidas no tempo que já de si regela e no das nuvens caladas  , não dá.
Não se suporta .
Vamos apelar ao bom senso porque o juízo já e pouco.
E um sentido que se oriente , é bem preciso.
Dá o último bafo e observa o fumo que sai de si e como este se dissipa sem conversas.
Não é costume , mas alguém me diz o que se passa?
Que calma é esta que se apodera do reinado do medo ?
A redoma tem fissuras mas garantiram que é inquebrável , estamos protegidos da ousadia dos céus limpos .
Tira-se as luvas em desespero, algo que se passa nas palmas,  uma dança de formigueiro , um sapateado retumbante ...
Socorro !
Caiu-lhe tudo ali .
Pássaros que cantam, cometas de luz arrebatadora , helicópteros vigilantes , estrelas cadentes , família de sonhos em debandada, flocos de nuvens ternos , chuva que se prosta aveludada  ....
De repente os céus tombam-me como salvaguarda e gritam
Leva -me ! 
Como se se a asa está partida? , devolve-se o grito.
A lua ruge com a coragem de um leão desafiado enquanto lhe põe nos dedos os rubis que o eclipse forjou.

Existem outras maneiras de voar.

                                                                    Sarah Moustafa