A Lua e o Plutão



Por vezes, consigo sentir-te quando pensas em mim, o meu olhar prende-se a um ponto invisível e tudo pára.
Entro nesse espaço partilhado e vejo te tão centrado, como eu, no vazio que nos catapulta tal tela de cinema e desfia memórias .
Eu acho que te vou ver sempre assim como uma força que me engole tanto para o abismo como para a supremacia de sentir .
E saber que é tão raro e que esta não foi a primeira nem será a ultima vez que nos cruzamos, foi apenas mais uma tentativa.
A nossa verdade não tem espaço nesta realidade , o teu ego renega-me , a minha cabeça desconfia.
Mas as nossas almas conversam, estão sempre perto, são velhas amigas.
Conheces-me como eu não me conheço a mim mesma, e odeio-te tanto por isso, como se tivesses mais de mim do que eu alguma vez tive.
Como se pudesse mesmo ser pertença e querer guardar-me na tua asa, esconder-me no teu sorriso enquanto eu nos escrevo e ditas em silêncio o que tenho de fazer.
Não gosto nada dos dias que me dizes para te esquecer e que gritas comigo " Vai Viver !" .
Sentes-te culpado , não era tua intenção causar tanto dano .
Quando te encontro nesse mesmo ponto, tento assegurar-te que estou bem e que quero que estejas também.
Mas os dias são lentos , as noites frias , sós e famintas .
E nenhum de nós está .
E dentro de mim chora uma menina perdida na rua e as pessoas passam ocupadas e com pressa , absortas na vida que para elas continua , não a veem, não se apercebessem do pânico de uma menina que precisa de ajuda.
Porque ela é grande por fora, ás vezes confiante, quase sempre segura que só precisa dela mesma .
Mas é mentira , depois de ti descobri como isso foi a mentira que mais contei para me impedir de mostrar e ligar a alguém.
É mentira e contínuo a contá-la .
Fraquejo em verdade só no espelho e no ponto onde me encontras quando temos urgência de nos salvar.
Não penses que as tuas lágrimas não caíram também no meu colo.
Não penses que eu não oiço, que eu não vejo, que eu não me importo.
Chego sempre nos meus mergulhos a outra camada inesperada  , mais profunda e tenebrosa do teu desassossego.
Ambos tememos o mesmo.
Mas queremos acreditar ... que talvez a fé , a magia ou outro milagre qualquer nos redima.
E nos dê só mais um segundo .




Sarah Moustafa


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