Repertório da Lua #7


Salto em cima do teu corpo, eventualmente terás de reagir para com a minha inquietação.
Não estás nada para aí virado , suspiras farto de mim e do meus humores voláteis .
Há umas hora atrás percebeste como deprimia afundada no copo de vinho que serviste em vão.
Não foi preciso dizer te nada , o meu jeito de bicho do mato alertou-te , retiraste-te de cena como qualquer Homem no seu perfeito juízo se deve retirar.
Acho que expressaste a tua frustração num comentário sarcástico qualquer , que interiorizei para me mais tarde usa-lo , esfregando na tua cara todas as razões porque me fazes sentir mal amada.
Dispo um pouco do lençol com que me cobri e danço aos pulos na cama fazendo toda a questão de te pisar e incomodar .
Gosto de me desprender dos teus braços  quando me aguardas e voltar para eles a correr quando já não me esperas .
Gosto de te tratar um bocadinho mal e testar essa resistência , ver até onde me levas e onde especificamente me largas.
Gosto que grites comigo que me apertes os braços ou partas a louça , por uma vez mais , estar a despertar um sismo na casa que passas tanto tempo a arranjar , só para me satisfazer o apetite dos caprichos de menina que consegue levar a dela em diante .
E quando discutimos e o rubor da tua pele encarniçada dá sinais que estás a chegar ao limite , fico com vontade de me rir.
E quando não consigo conter a gargalhada, tu bates com a porta da rua e vais apanhar ar para não teres de partir para medidas mais drásticas.
E quando sais , esse inferno de nos amarmos como crianças selvagens deixadas aos lobos , dá-me calafrios e começo a chorar , sabendo que um dia não voltas mesmo e te desfazes da loucura de me quereres ao teu lado.
Choro e vou de gatas bêbada para o quarto onde visto uma das tuas camisas e me deixo estar imersa no pântano de sonhos desfeitos .
Assimilo a culpa do meu temperamento feito para te afastar quando preciso que fiques perto e percebo que sou feita de farrapos .
Desfaço-me nesses pedaços esburacados da alma e adormeço no chão .
Os teus passos encontram-me , voltaste uma vez mais.
Com bafo de cigarros do maço inteiro que deves ter fumado para tirar de ti os nervos que causo.
Agarras-me no abrigo da responsabilidade e deitas-me nos lençóis que já deviam ter sido trocados.
Perdes tempo a olhar para aquele meu estado e a raiva derrete-se em desejo , percebes que a teimosia do teu caracter só se quebra quando estou ali e como tu precisas do meu caos estendido na cama que jamais voltará a ser tua, para te tornar flexível e quem sabe melhor pessoa.
Menos egoísta e fechado nas regras do universo que dominas.
Não te imaginas sem a  doença dos meus cheiros perfumando tudo por onde passas .
Acaricias-me o corpo sabendo que terás sempre de ser Capitão na extensão de todo o meu naufrágio.
Dizem- me que sou a maior parte do problema e escolhes-me a dedo farto do tédio das sombras previsíveis.
Desabotoas-me a camisa com que me rendi ao sono abandonado , alimentado pela necessidade de adentrares o mistério que escondo e a beleza das formas improváveis que enchem todas as medidas.
Sabes que não me devias tomar daquela forma inconsciente , assolapada e eu ainda de pálpebras cerradas , mas sentes-te um pouco no direito de o fazer.
Dou por ti e pelas tuas mãos e abro-me por inteiro , como sempre, no parto de mais um momento que perpetuamos na vida que não nos cansa.
Voltaste mais uma vez .
Voltas em todas as escuras facetas que nos amedrontam , sinto o ódio com que me amas de uma forma palpável quase ... musical.
Volta tudo ao mesmo.
Eu aos saltos na cama e em cima de ti enquanto tentas manter-te sério e acima das minhas patetices.
E não consegues ouvir-me senão com a boca contra a minha , e as línguas entrelaçadas num beijo que nunca vai deixar de ser dado.
Mesmo quando nos julgamos fartos desses cantos obscuros onde nos ajoelhamos, demasiado leais.

Cada lado da lua é um lado que nos enlouquece , cuidado quando olharem para ela!


 Bom Fim de Semana



Rui Veloso- Lado Lunar

  

Sarah Moustafa




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