Repertório da Lua #5





Confesso que a Lua me segreda , sobretudo , quando evito olhar para ela!
Fugir dela quase que se tornou uma questão de sobrevivência, pois quando o seu brilho de prata repousa na minha pele  , transforma-me e sou a mulher que se veste de mistério e a menina que treme de medo perante o domínio assombrado do que não compreende.
Quando ela se oculta dos céus tapados de medos ... adormece em mim.
Traz-me a feitiçaria de palavras acostadas a emoções e relembra-me que fui feita para segurar nas mãos o agridoce legado de Intuir.
Adorna-me o coração de símbolos e venda-me os olhos, sedutora.
Já percebeste?
Já percebeste?
Já percebeste?
Diz que talvez me deixe, quando eu acordar com toda a memória que ela guarda .
Lembra-te de mim.
Lembra-te de mim.
Lembra-te de mim.
O lobo está a uivar e névoa dança a minha volta como se me vestisse para o seu ritual.
Dizem segue os sinais.... mas a lua é mentirosa.
Digo não, não , não.
Não acredito em ti.
Embrulho-a no meu embalo e guardo-a numa caixa de música .
Gira o seu disco com memórias projectadas nas paredes em que se tenta infiltrar.
É tão bonita!
Mas... não posso confiar nela.

Não posso.




Lua , Pedro Abrunhosa



Sarah Moustafa

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