Diário Dos Arruinados- VI
Todos os dias deito-me com ela, faço dela e por ela toda uma vida, construída cautelosamente, passo a passo, não gostamos de precipitações.
Na verdade, eu detesto arrebatamentos, ela apenas concorda, não terá outro remédio senão o de aceitar, tal como eu a aceitei, como companheira exclusiva em domínio de uma vida, em detrimento de qualquer relação.
Ela confunde-me por vezes, envia-me sinais contraditórios do que diz, do que quer, e do que sente, Sentir?
Corrijo ela não sente, projecta é os meus sentimentos!
No outro dia teve a ousadia de afirmar que eu é que lhe enviava esses tais de sinais confusos, às minhas intenções, que ultraje!
Depois de tudo o que abdiquei para a favorecer, para a enaltecer nos caprichos que me custavam em dores até aos ossos, como pode ela dizer-me algo como disse?
Tento pensar sozinho, estar em silêncio nos meus desarrumos, mas é impossível, aquela sombra não sai. Não se esvai nem por nada.
Ela nem nome de gente tem.
Conhecia-a nos cantos mais estéreis, mais rombos e despedaçados que um homem em si pode conter, de certa forma ajudou-me a erguer, mas ergueu-me diferente!
Demasiado diferente do que sonhei poder ser.
Vivo nesse pesadelo ininterrupto, o que apenas em contos tristes me parecia possível residir, nunca para mim e para a dimensão do desejo.
O desejo extinguiu-se quando a convidei a entrar no leito, quando tenuemente a abracei nas noites em temporais, sem nunca de facto a envolver nos braços!
Repudio-me por a aceitar, por a carregar, pois nesses modos nada me faz de melhor do que á sua penumbra culpabilizo.
Castrei-me á entrega de um grande amor, por alguém que representa algo que desprezo, e isso fará de mim o maior de todos os desprezíveis!
Ela nem nome de gente tem, mas é real e implacável nos seus efeitos.
O desejo extinguiu-se quando a convidei a entrar no leito, quando tenuemente a abracei nas noites em temporais, sem nunca de facto a envolver nos braços!
Repudio-me por a aceitar, por a carregar, pois nesses modos nada me faz de melhor do que á sua penumbra culpabilizo.
Castrei-me á entrega de um grande amor, por alguém que representa algo que desprezo, e isso fará de mim o maior de todos os desprezíveis!
Ela nem nome de gente tem, mas é real e implacável nos seus efeitos.
Ela é a Solidão.
Sarah Moustafa
Gostava de ler esta saga desde inicio, seria possível colocares um separador, ou uma etiqueta? Se for possível, se não for eu procuro :)
ResponderEliminarBeijinhos
Não é nome de gente, mas é um nome que se sopra nos ouvidos, sem ser convidada. Mas depois de se instalar...
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